Automação do trabalho docente: EaD em questão
Resumo
Este trabalho deriva de tese de doutorado, defendida no programa de pósgraduação em Educação da UNICAMP, em fevereiro de 2008. Objetivou-se, com a pesquisa, o estabelecimento da análise histórica da constituição do processo de trabalho docente. Na persecução do objetivo, tomou-se como ponto de partida o estudo da categoria trabalho, nos escritos marxianos e marxistas. Com respeito ao trabalho docente, Marx teceu breves considerações e um dos aspectos que se salienta de seus escritos é o de que a produção docente se coloca como imaterial, por ser uma produção que não se separa do ato de produzir, não se materializa em um produto. Para ele, quando comparadas ao conjunto da produção capitalista, as formas imateriais de produção são insignificantes, secundárias, por não permitirem o aprofundamento de sua subsunção real, ou a aplicação plena do método mais avançado de produção capitalista, a maquinaria. Essa é a análise de Marx, no contexto histórico do século XIX, quando também afirmou que o capital se move, permanentemente, no sentido de subsumir o trabalho sob a forma mais avançada. A assertiva foi tomada como provocação para a apreciação dos impactos dos avanços materiais alcançados na sociedade contemporânea sobre o processo de trabalho docente. Chegou-se, no último terço do século XX, a um novo patamar tecnológico na produção industrial, com a aplicação da automação de base microeletrônica, a que Moraes Neto denominou de automação flexível. Associada aos avanços informacionais e comunicacionais, essa forma avançada de automação tem permitido a objetivação, na máquina, não só da habilidade e força manual, como se deu com a revolução industrial do século XVIII, mas, também, do engenho humano, da capacidade intelectual, os quais distinguem o homem dos outros animais. O trabalho docente avançou, paulatinamente, da forma artesanal à manufatureira, posto que ainda prevalecem no tempo presente, conforme discussão de Alves. Considera-se que o patamar tecnológico alcançado coloca a base técnica necessária ao capital, para avançar na subsunção real do trabalho docente em sua forma mais desenvolvida, ou seja, permite presumir a automação de amplas parcelas do trabalho docente, ao menos nos níveis mais avançados de ensino. Na medida em que esse trabalho se objetiva, fica disponível para uso/consumo independente pelo aluno, o que torna o trabalho do professor acessório. O coroamento do ideário liberal na esfera do ensino está ligado à possibilidade de instauração da autodidaxia. A análise da EaD, modalidade educacional alicerçada sobre novas bases tecnológicas, é ilustrativa da tendência de automação do trabalho docente, do avanço expressivo do capital na sua subsunção real.
Publicado
2011-08-30
Como Citar
LANCILLOTTI, S. Automação do trabalho docente: EaD em questão. CADERNOS DE PESQUISA: PENSAMENTO EDUCACIONAL, v. 6, n. 13, p. 145-161, 30 ago. 2011.
Seção
Artigos
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